sábado, 28 de março de 2009

Filme do Beato Rafael




INE.ES / OVIEDO

O Beato Rafael chega ao cinema

A alemã Maria Mohr prepara um longa metragem sobre a vida e a mensagem do futuro Santo de Oviedo

J. MORÁN

Um beato entre uma monja e uma cineasta, entre a experiência mística e a experiência cinematográfica. Ingrid Mohr, religiosa alemã, e sua sobrinha, Maria Mohr – diretora de documentais, premiada em vários festivais internacionais – narram com palavras e imagens a vida de Rafael Arnáiz Barón que, nascido em Burgos (1911), cresce e estuda em Oviedo (1922-1934), e ingressa e falece no Mosteiro de San Isidro de Dueñas, a Trapa, Palencia, (1934-1938). O Irmão Rafael morre aos 27 anos, vítima de um coma diabético. Seus diários, cartas, escritos, começaram a ser publicados desde então e alcançaram uma difusão enorme entre fiéis católicos. Seu processo de beatificação teve início em 1965 e o Papa João Paulo II o elevou aos altares em 1992.

Rafael Arnáiz foi definido como um dos grandes místicos do século XX. Assim o considera, entre outros, o Cardeal jesuíta Carlo Maria Martini, que sendo Arcebispo de Milão, fez o prólogo das obras completas do Beato Rafael, traduzidas para o alemão pela Irmã Mohr. Ingrid Mohr deu uma conferência no Seminário de Oviedo sobre Rafael em suas dimensões de estudante ( Bacharelado com os jesuítas e Arquitetura em Madrid ); artista (pintura); monge e místico. «Místico significa que o essencial em sua vida, em pensamentos e obras, foi descobrir a vontade de Deus e cumpri-la; o teólogo jesuíta Karl Rahner disse o cristão de amanhã ou será um místico ou não será nada», explicou Mohr.

Ingrid Mohr, que vive em Aquisgrán, estudou Química e trabalhou na Espanha entre 1963 e 1979. Foi então quando conheceu os escritos do Beato Rafael, «que muito me entusiasmaram porque coincidiam bastante com a espiritualidade de minha congregação, as Irmãs do Menino Jesus Pobre. Desde então, me deixei levar pelo conhecimento do Beato Irmão Rafael. Em 1994, após uma viagem à Espanha e à Trapa, uma Irmã que vivia em minha comunidade, muito doente de câncer dos ossos, e com grandes dores, às vezes com sua alma no chão, me pediu que lhe falasse de Rafael. Ela parecia reviver com ele, e dia a dia, folha a folha, comecei a traduzir seus textos para o alemão, a fim de os dar a ela, que queria meditá-los. Tal trabalho foi o que depois culminou na publicação das obras completas. Martini, convidado a fazer o prólogo, disse à editora que não escrevia prólogos porque não daria conta da quantidade de pedidos que recebia; mas fez uma exceção: conhecia ao Beato Rafael e escreveu uma carta que me permitiu usar como prólogo», relembra a Irmã Ingrid Mohr. Dezenas de conferências, assim como muitos programas de rádio e de televisão, difundem a figura de Rafael na Alemanha, graças às palavras de Ingrid Mohr.

Quanto às imagens, ficaram por conta de sua sobrinha, Maria Mohr, que estudou Belas Artes em Berlim. A sua produção «Primo / prima, sobre minha família, em estilo experimental, não só documental», foi premiada no Festival Internacional de Curta metragens de Uberhausen, assim como também no México (melhor documental internacional) e no Brasil.

Deu palestras em vários países, e com essas remunerações, mais uma bolsa de estudos do Estado de Renania-Westfalia e um contrato de produção com o canal 3SAT, da Alemanha, embarcou no longa metragem de 90 minutos, ainda em realização, «Irmão / irmã», sobre o Beato Rafael e as pegadas dele em sua tia. «Me fascinou contar como se pode viver com um Santo no coração; no centro há algo místico que Ingrid transmite às pessoas».

Em 2006, a Irmã Ingrid e Maria percorreram e filmaram nos cenários pelos quais Rafael Arnáiz passou: a Trapa de Palencia, Ávila, Madrid, Santillana del Mar, Burgos, Oviedo, Covadonga, Cabo Peñas, Cudillero e o porto de El Musel de Gijón.


Fotos tiradas por Maria, de sua tia Ingrid, na
Conferência do Seminário, junto ao técnico de som


Markus Ruff


sexta-feira, 27 de março de 2009

Sobre o silêncio




“Nada encontro nos livros. Somente encontro no silêncio de tudo e todos... Nesse silêncio que nem o pensamento se atreve a perturbar, nesse silêncio que rumina amores e esperanças, somente aí se pode viver.

Nada me dizem o mundo ou as criaturas... Tudo é ruído... Só no silêncio de tudo e de todos encontro a paz de teu amor, Senhor. Só no humilde sacrifício de minha solidão encontro o que busco, tua Cruz, e nela estás Tu, e estás só, sem luz e sem flores, sem nuvens e sem sol...

Somente no silêncio se pode viver, mas não no silêncio de palavras e de obras, não; é outra coisa muito difícil de explicar... É o silêncio de quem quer muito, muito, e não sabe que dizer, que pensar, nem o que desejar, nem o que fazer. Só Deus ali dentro, muito caladinho, esperando, esperando, não sei... É muito bom, Senhor.

Silêncio, oração, renúncia e sacrifício com um sorriso nos lábios e paz no coração, isso é amor.

Embora tudo o que tu desejas se cumprisse, nada terias se tua alma não estivesse em solidão e teu coração em oração".


Dos escritos de Rafael



sábado, 21 de março de 2009

Morte do Confessor do Beato Rafael Arnáiz – 2ª parte




Alfa e Omega/2001

Morre o Confessor do Beato Rafael, Padre Teófilo Sandoval Fernández

(continuação)

VENERADO POR TODOS

Com o passar dos anos, seus gestos seguiam sendo naturais. Sua pessoa era um encanto de irmão venerado por todos. Sempre recordarei sua espontaneidade no sacramento do perdão; depois que me absolvia, se levantava sorridente e me dava um abraço de paz.

Fazia tempo que sua memória e orientação falhavam, mas chamava a atenção que suas palavras continuavam sendo lúcidas e acertadas quando confessava aos monges. Na enfermaria somente tinha um interesse: seguir a seus irmãos. ‘Que faz agora a comunidade, onde está? Esta foi a sua pergunta habitual de enfermo.

A graça do Espírito Santo estava nele. Podemos ler em sua vida sinais que mostram ser ele um predileto do Senhor. No dia 13 de novembro, festa de todos os santos que seguiram a Regra de São Bento, o Padre Teófilo estava em uma poltrona, rodeado de irmãos jovens; me aproximei dele vendo que respirava entrecortadamente e ele com seu olhar me disse tudo. Comecei as orações para o último momento. Olhei o relógio e eram 3 horas da tarde em ponto . Nesse mesmo momento, com suavidade, dormiu para sempre na misericórdia do Senhor.

No dia seguinte, D. Rafael Palmero, Bispo de Palencia, presidiu a celebração das exéquias. Nosso Bispo lhe tinha um grande carinho. Em sua homilia, nos disse que se ontem celebrávamos a todos os santos cistercienses, no céu faltava um; por isso, foi reunir-se com eles nosso querido e venerado Padre Teófilo”.


Gerardo Luís Martín Sánchez
Prior de San Isidro de Dueñas


domingo, 15 de março de 2009

Morte do Confessor do Beato Rafael Arnáiz – 1ª parte




Alfa e Omega/2001

Morre o Confessor do Beato Rafael, Padre Teófilo Sandoval Fernández

Há mais de 50 anos, Mercedes Barón publicou Vida y escritos, livro sobre seu filho, Frei María Rafael Arnáiz Baron — hoje, Beato Rafael. Numerosos leitores, que também haviam lido a primeira biografia do Irmão Rafael, ‘Um segredo da Trapa’, começaram a escrever ao Mosteiro Cisterciense de San Isidro de Dueñas, Palencia, tocados pela atrativa personalidade, tão humana e espiritual, de um estudante de Arquitetura que, possuído pelo desejo de Deus, entrou na Trapa e nela só pôde viver 18 meses. Até hoje as pessoas continuam seguindo atraídas e cativadas.

Os primeiros admiradores do Irmão Rafael foram atendidos por Frei María Teófilo — “Meu confessor de quem me recordo muito”, escreveu Rafael, depois de sair da Trapa gravemente doente de diabetis. O Padre Teófilo Sandoval Fernández, confessor de Rafael, já partiu para Deus. Passaram-se já quase dois meses de sua morte e muitos se perguntam sobre o segredo que guardava este monge de 98 anos. O clamor é unânime: morreu um homem de Deus! Querem saber mais. Aqui então, umas linhas escritas desde o silêncio:


“A vida do Padre Teófilo transcorreu à margem de acontecimentos relevantes. Dela, talvez, cabe ressaltar dois feitos excepcionais. Um é que viveu no Mosteiro 85 anos. Em toda a história do monacato cristão quase ninguém havia vivido tantos anos a vida monástica como ele. O outro é que a sua lembrança ficará sempre unida à da vida santa do Beato Rafael.

O Padre Teófilo foi seu confessor, diretor espiritual e quem pediu ao jovem Rafael que escrevesse o que se passava em seu interior. Rafael assim o fez em umas folhas soltas, numeradas, colocadas dentro de uma pasta com o título: Deus e minha alma. Estas notas de consciência e outros cadernos, depois da morte de Rafael, estavam guardados para serem queimados, como se costuma fazer quando morre um monge. O Padre Teófilo conseguiu livrá-los da fogueira. Estas páginas, escritas por Rafael na enfermaria, durante os últimos quatro meses de sua vida, confirmaram ao Padre Teófilo a talha espiritual que já pressentia em seu discípulo. Tanto impacto lhe causou esta leitura que, mais tarde, ao ir comprovando o influxo que fizeram nos leitores, e movido por eles, viu a conveniência de abrir o Processo de beatificação e canonização. Se impõe uma clara conclusão: Rafael é hoje o Beato Rafael pelo bom feito do Padre Teófilo.


Tive a sorte de conviver de muito perto com o Padre Teófilo, sobretudo nos últimos quatro anos de sua vida. Sou o enfermeiro da comunidade e segui passo a passo o câncer que foi implacavelmente debilitando sua robusta saúde, apesar da idade, e culminou com sua morte.

Simplesmente celebro com veneração a sua lembrança, sabendo que aproximar-se da vida interior de um monge na presença de Deus é um intento indiscreto.

‘No Mosteiro se morre como se vive’, dizia ele. Assim simples é seu testemunho monástico. Morreu honesto, transparente, humilde, obediente, sem queixar-se. Ele foi chamado de ‘Um Testemunho inquestionável de vida monástica’. Assim era ele. É certo que tinha um acentuado afã pelos costumes e tradições. Baste este curioso detalhe: em seu corte de cabelo levava a antiga tonsura dos monges. Desde os 13 anos não conheceu maior presente que vestir o hábito cisterciense e o levava vestido inclusive no momento de sua morte. Sempre dormiu vestido com o hábito e em seu quarto na enfermaria, dormia sobre uma tábua, coberta por uma finíssima esponja e uma manta. Não permitia mais nada em sua cama e assim foi até um mês antes de sua morte. Era ordenado e limpo. Mas apesar deste modo tradicional e austero, era um homem pacífico e tolerante, e manifestava abertamente o que pensava. À sua mentalidade jurídica — era doutor em Direito Canônico —unia uma extraordinária sensibilidade. Sabia chorar com os que choram e rir com os que riem. O Beato Rafael escreveu de seu confessor que este se despediu dele com lágrimas nos olhos quando teve que deixar o Mosteiro".

(continua)


quarta-feira, 11 de março de 2009

Silêncio




“Muitas pessoas me perguntam acerca do silêncio da Trapa e eu não sei o que responder, pois o silêncio da Trapa não é silêncio; é um concerto sublime que o mundo não compreende. É esse silêncio que diz: Não faças ruído, irmão, que estou falando com Deus. É o silêncio do corpo para deixar a alma gozar da contemplação de Deus. Não é o silêncio de quem não tem nada a dizer, mas o silêncio de quem, tendo muitas coisas dentro, e muito formosas, se cala para que as palavras, que sempre são torpes, não adulterem o diálogo com Deus. É o silêncio que nos faz humildes, que nos faz sofridos, que ao ter uma pena nos faz contá-la somente a Jesus, para que Ele também, em silêncio, nos cure sem que os demais se interem. Na paz e no silêncio, minha alma se abandona a Deus”.


Dos Escritos de Rafael
Apologia do Trapista


sábado, 7 de março de 2009

Oração de Quaresma do Beato Rafael Arnáiz




“Ajoelhado aos pés de Tua Santíssima Cruz, Te peço paciência, humildade e mansidão. Tu, desde Tua Cruz me ensinaste a perdoar. Que me ensinarão os homens que não me ensines Tu desde Tua Cruz?

Somente aos pés de Tua Cruz se aprende a perdoar...A lição que Tu me ensinas desde a Cruz me dá forças para tudo.

Que doce é a Cruz de Jesus! Que Bom é Deus que me ensina desde Sua Santa Cruz!”


Dos escritos de Rafael


quinta-feira, 5 de março de 2009

Dos escritos de Rafael: A vida é luta!




“Ave Maria!

Às cinco da manhã. Um trapista que acaba de comungar, que vai dizer? Em que vai pensar? Talvez esteja sua alma entontecida.É muito sublime o que acaba de fazer...Mas não, não acontece assim...Ainda é homem sobre a terra e não anjo do céu, e como homem que se vai esperar dele? ‘Seu espírito está pronto mas sua carne é fraca’ (Mt 26, 41).

Arrasta seu corpo como Deus lhe dá a entender. Sua alma quisera voltar a regiões de luz mas suas pálpebras lhe pesam de sono, se fecham, e lhe fazem recordar que a vida é luta, e luta contra as trevas.

Verdadeira humilhação é ter que viver. Verdadeira humilhação é estar sujeito ao corpo, a este corpo que tantas vezes nos vence e de quem não podemos prescindir, embora queiramos.

Verdadeira humilhação é não poder receber a Deus em outro lugar, senão no que tem que ser, aqui, dentro de nós, dentro de nossa miséria, dentro de nossa alma sujeita à matéria...a essa matéria que leva para baixo quando as pálpebras carregadas de sono querem cair-se.

Senhor Jesus, perdoa a este pobre oblato trapista...Não meças o amor que Te tem pelo que faz ou Te diz, pois muitas vezes nem Te diz nem faz nada. Sua vontade é outra e não a dos seus atos. Sua alma só acerta em reconhecer que nada merece. E se Te pões, Senhor, a examinar, se tiveres em conta nossos pecados, Senhor, Senhor, quem poderá subsistir diante de Ti? (Salmo 129,3)

Pobre oblato cisterciense, que sem querer dorme no Coro...Pobre freizinho, que com ânsias de voar vê suas asas cortadas e amarradas a seu corpo e a suas misérias. Contenta-te com caminhar pela humilde senda que Deus te mostra, e que te sirvam tuas próprias fraquezas para aprender a amar a Deus, que te quer tal qual és, fraco e débil, e com as pálpebras carregadas de sono.”



Rafael e o Coro





“Quando estás no Coro e com o Saltério diante de ti,
podem se passar horas e horas
que não te dás conta”


Dos escritos de Rafael


terça-feira, 3 de março de 2009

Irmão Rafael dá seu coração a Jesus





“Jesus necessita de corações que, esquecendo-se
de si mesmos e longes do mundo, adorem e
amem com frenesi e com loucura Seu Coração
dolorido e rasgado por tanto esquecimento.
Jesus meu,
Doce Dono dos meus amores,
toma o meu!”



Dos escritos de Rafael



Oração ao Beato Rafael





“Senhor Onipotente
que glorificas aos humildes e abates aos soberbos,
Te suplicamos pela Glória de Teu Santo Nome
enalteças a memória do Beato Rafael,
concedendo-nos a graça que Te
pedimos por intercessão do mesmo
que viveu e morreu para glorificar a Ti, Senhor,
que com o Filho e o Espírito Santo
vives e reinas pelos séculos dos séculos
Amém”.


Fonte: Devocionário católico


domingo, 1 de março de 2009

Quaresma para Rafael




CONTIGO AO MEU LADO, TUDO POSSO!


“Senhor, ontem vi claramente que só recorrendo a Ti se aprende; que só Tu dás forças nas provas e tentações, e que somente aos pés da Cruz, vendo-Te cravado nela, se aprende a perdoar, se aprende humildade, caridade e mansidão.

Não me esqueças, Senhor...Olha-me prostrado aos Teus pés e concede o que Te peço.

Venham logo desprezos, venham humilhações, venham açoites da parte das criaturas...Que me importa? Contigo ao meu lado posso tudo. A portentosa, a admirável, a inenarrável lição que Tu me ensinas da Tua Cruz, me dá forças para tudo.

A Ti, te cuspiram, Te insultaram, Te açoitaram, Te cravaram em um Madeiro e, sendo Deus, perdoavas; Humilde, calavas; e ainda Te oferecias...Que poderei dizer eu de Tua Paixão? Mais vale que nada diga e que dentro de meu coração medite nessas coisas que o homem não pode chegar jamais a compreender.

Contente-me, eu, com amar profundamente, apaixonadamente, o Mistério da Tua Paixão, e aprenda a sofrer da maneira que Tu fizeste. Já sei que isso é o impossível dos impossíveis, mas olha, Senhor, minha intenção”.

Dos escritos de Rafael
07 de abril de 1938