Alfa e Omega/2001
Morre o Confessor do Beato Rafael, Padre Teófilo Sandoval Fernández
Há mais de 50 anos, Mercedes Barón publicou Vida y escritos, livro sobre seu filho, Frei María Rafael Arnáiz Baron — hoje, Beato Rafael. Numerosos leitores, que também haviam lido a primeira biografia do Irmão Rafael, ‘Um segredo da Trapa’, começaram a escrever ao Mosteiro Cisterciense de San Isidro de Dueñas, Palencia, tocados pela atrativa personalidade, tão humana e espiritual, de um estudante de Arquitetura que, possuído pelo desejo de Deus, entrou na Trapa e nela só pôde viver 18 meses. Até hoje as pessoas continuam seguindo atraídas e cativadas.
Os primeiros admiradores do Irmão Rafael foram atendidos por Frei María Teófilo — “Meu confessor de quem me recordo muito”, escreveu Rafael, depois de sair da Trapa gravemente doente de diabetis. O Padre Teófilo Sandoval Fernández, confessor de Rafael, já partiu para Deus. Passaram-se já quase dois meses de sua morte e muitos se perguntam sobre o segredo que guardava este monge de 98 anos. O clamor é unânime: morreu um homem de Deus! Querem saber mais. Aqui então, umas linhas escritas desde o silêncio:
“A vida do Padre Teófilo transcorreu à margem de acontecimentos relevantes. Dela, talvez, cabe ressaltar dois feitos excepcionais. Um é que viveu no Mosteiro 85 anos. Em toda a história do monacato cristão quase ninguém havia vivido tantos anos a vida monástica como ele. O outro é que a sua lembrança ficará sempre unida à da vida santa do Beato Rafael.
O Padre Teófilo foi seu confessor, diretor espiritual e quem pediu ao jovem Rafael que escrevesse o que se passava em seu interior. Rafael assim o fez em umas folhas soltas, numeradas, colocadas dentro de uma pasta com o título: Deus e minha alma. Estas notas de consciência e outros cadernos, depois da morte de Rafael, estavam guardados para serem queimados, como se costuma fazer quando morre um monge. O Padre Teófilo conseguiu livrá-los da fogueira. Estas páginas, escritas por Rafael na enfermaria, durante os últimos quatro meses de sua vida, confirmaram ao Padre Teófilo a talha espiritual que já pressentia em seu discípulo. Tanto impacto lhe causou esta leitura que, mais tarde, ao ir comprovando o influxo que fizeram nos leitores, e movido por eles, viu a conveniência de abrir o Processo de beatificação e canonização. Se impõe uma clara conclusão: Rafael é hoje o Beato Rafael pelo bom feito do Padre Teófilo.
Tive a sorte de conviver de muito perto com o Padre Teófilo, sobretudo nos últimos quatro anos de sua vida. Sou o enfermeiro da comunidade e segui passo a passo o câncer que foi implacavelmente debilitando sua robusta saúde, apesar da idade, e culminou com sua morte.
Simplesmente celebro com veneração a sua lembrança, sabendo que aproximar-se da vida interior de um monge na presença de Deus é um intento indiscreto.
‘No Mosteiro se morre como se vive’, dizia ele. Assim simples é seu testemunho monástico. Morreu honesto, transparente, humilde, obediente, sem queixar-se. Ele foi chamado de ‘Um Testemunho inquestionável de vida monástica’. Assim era ele. É certo que tinha um acentuado afã pelos costumes e tradições. Baste este curioso detalhe: em seu corte de cabelo levava a antiga tonsura dos monges. Desde os 13 anos não conheceu maior presente que vestir o hábito cisterciense e o levava vestido inclusive no momento de sua morte. Sempre dormiu vestido com o hábito e em seu quarto na enfermaria, dormia sobre uma tábua, coberta por uma finíssima esponja e uma manta. Não permitia mais nada em sua cama e assim foi até um mês antes de sua morte. Era ordenado e limpo. Mas apesar deste modo tradicional e austero, era um homem pacífico e tolerante, e manifestava abertamente o que pensava. À sua mentalidade jurídica — era doutor em Direito Canônico —unia uma extraordinária sensibilidade. Sabia chorar com os que choram e rir com os que riem. O Beato Rafael escreveu de seu confessor que este se despediu dele com lágrimas nos olhos quando teve que deixar o Mosteiro".
Os primeiros admiradores do Irmão Rafael foram atendidos por Frei María Teófilo — “Meu confessor de quem me recordo muito”, escreveu Rafael, depois de sair da Trapa gravemente doente de diabetis. O Padre Teófilo Sandoval Fernández, confessor de Rafael, já partiu para Deus. Passaram-se já quase dois meses de sua morte e muitos se perguntam sobre o segredo que guardava este monge de 98 anos. O clamor é unânime: morreu um homem de Deus! Querem saber mais. Aqui então, umas linhas escritas desde o silêncio:
“A vida do Padre Teófilo transcorreu à margem de acontecimentos relevantes. Dela, talvez, cabe ressaltar dois feitos excepcionais. Um é que viveu no Mosteiro 85 anos. Em toda a história do monacato cristão quase ninguém havia vivido tantos anos a vida monástica como ele. O outro é que a sua lembrança ficará sempre unida à da vida santa do Beato Rafael.
O Padre Teófilo foi seu confessor, diretor espiritual e quem pediu ao jovem Rafael que escrevesse o que se passava em seu interior. Rafael assim o fez em umas folhas soltas, numeradas, colocadas dentro de uma pasta com o título: Deus e minha alma. Estas notas de consciência e outros cadernos, depois da morte de Rafael, estavam guardados para serem queimados, como se costuma fazer quando morre um monge. O Padre Teófilo conseguiu livrá-los da fogueira. Estas páginas, escritas por Rafael na enfermaria, durante os últimos quatro meses de sua vida, confirmaram ao Padre Teófilo a talha espiritual que já pressentia em seu discípulo. Tanto impacto lhe causou esta leitura que, mais tarde, ao ir comprovando o influxo que fizeram nos leitores, e movido por eles, viu a conveniência de abrir o Processo de beatificação e canonização. Se impõe uma clara conclusão: Rafael é hoje o Beato Rafael pelo bom feito do Padre Teófilo.
Tive a sorte de conviver de muito perto com o Padre Teófilo, sobretudo nos últimos quatro anos de sua vida. Sou o enfermeiro da comunidade e segui passo a passo o câncer que foi implacavelmente debilitando sua robusta saúde, apesar da idade, e culminou com sua morte.
Simplesmente celebro com veneração a sua lembrança, sabendo que aproximar-se da vida interior de um monge na presença de Deus é um intento indiscreto.
‘No Mosteiro se morre como se vive’, dizia ele. Assim simples é seu testemunho monástico. Morreu honesto, transparente, humilde, obediente, sem queixar-se. Ele foi chamado de ‘Um Testemunho inquestionável de vida monástica’. Assim era ele. É certo que tinha um acentuado afã pelos costumes e tradições. Baste este curioso detalhe: em seu corte de cabelo levava a antiga tonsura dos monges. Desde os 13 anos não conheceu maior presente que vestir o hábito cisterciense e o levava vestido inclusive no momento de sua morte. Sempre dormiu vestido com o hábito e em seu quarto na enfermaria, dormia sobre uma tábua, coberta por uma finíssima esponja e uma manta. Não permitia mais nada em sua cama e assim foi até um mês antes de sua morte. Era ordenado e limpo. Mas apesar deste modo tradicional e austero, era um homem pacífico e tolerante, e manifestava abertamente o que pensava. À sua mentalidade jurídica — era doutor em Direito Canônico —unia uma extraordinária sensibilidade. Sabia chorar com os que choram e rir com os que riem. O Beato Rafael escreveu de seu confessor que este se despediu dele com lágrimas nos olhos quando teve que deixar o Mosteiro".
(continua)
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