domingo, 26 de abril de 2009

FESTA DO BEATO RAFAEL ARNÁIZ BARÓN: A heroicidade de um apagamento total – 1ª parte




FESTA DIA 26 DE ABRIL

A heroicidade de um apagamento total – 1ª parte

Por Irmã Clara Isabel Morazzani Arráiz, EP

Frequentemente julga-se que o pleno desenvolvimento de um homem consiste em ser bem sucedido na vida, galgar altos postos, conquistar prestígio, obter uma importante fortuna. Não é este, porém, o ensinamento que emana dos Livros Sagrados.

O grande êxito da vida do Irmão María Rafael foi aceitar o aparente fracasso de seu ideal, conformando-se inteiramente à vontade divina. Nada foi aos olhos humanos, mas foi santo aos olhos de Deus, que julga pelo coração, e não pelas aparências.


Frequentemente julga-se que o pleno desenvolvimento de um homem consiste em ser bem sucedido na vida, galgar altos postos, conquistar prestígio, obter uma importante fortuna. Não é este, porém, o ensinamento que emana dos Livros Sagrados, referindo-se a quem se afana em ajuntar riquezas, sem utilizá- las para glorificar a Deus: "Não permanecerá o homem que vive na opulência: ele é semelhante ao gado que se abate" (Sl 48, 13). Ou: "Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se vem a perder-se a si mesmo e se causa a sua própria ruína?" (Lc 9, 25).

Para Deus importa, antes de tudo, que o homem se conforme com Sua santa vontade. E esta não pede o mesmo a todas as almas: a umas designará para ocupar altos cargos ou distinguir-se pelas obras, desde que sempre centradas no amor a Deus; a outras chamará para a renúncia e o sacrifício. Tanto umas quanto outras serão grandes diante de Deus, e as segundas não terão menos mérito que as primeiras. O tribunal divino não julga pelas aparências exteriores, mas segundo o grau de docilidade à vontade de Deus. A história do Beato Rafael oferece um exemplo dessa entrega plena e desinteressada de uma vida que poderia ter atingido um grande esplendor mundano.



Um menino privilegiado

Rafael Arnáiz Barón nasceu em Burgos, Espanha, a 9 de abril de 1911, numa aristocrática família. Seus pais, católicos fervorosos, educaram-no com esmero na prática dos Mandamentos e no amor à virtude. Aos 10 anos, vendo-se impossibilitado de acompanhar seus colegas à Missa de domingo, por estar enfermo, suplicou a um Sacerdote que lhe levasse o Santíssimo Sacramento. Impressionado com a piedade daquela criança, o Padre acedeu e, a partir daí, Rafael nunca mais abandonou a Comunhão dominical.

Diante do olhar profundo do jovem Rafael, seu futuro se descortinava em tons róseos e azulados. Sua inteligência penetrante, a vivacidade de sua conversa e seu trato ameno conquistavam-lhe todas as simpatias e aumentavam o atrativo natural que exercia sobre os que dele se aproximavam. Um marcado pendor artístico veio completar o encanto de sua pessoa.

Rafael, porém, parecia feito mais para a contemplação das coisas celestes que para as banalidades da vida terrena. Levava uma vida semelhante à dos outros moços de sua idade, mas seu olhar voava com facilidade até Deus. Dir-se-ia que sua nobre alma experimentava o exílio deste vale de lágrimas e ardia em desejos de horizontes sublimes. A resposta da Providência a tais anseios, plantados por ela mesma naquele inocente jovem, não se faria esperar.



Na juventude, o despontar da vocação

Aos 19 anos, estando na casa de seu tio em Ávila, foi solicitado a levar uma carta ao Abade do Mosteiro Trapista de San Isidro de Dueñas. Essa visita seria para ele a clarinada reveladora de sua vocação.

"Aquilo que vi e passei na Trapa, escreveria ele mais tarde, as impressões que tive nesse santo mosteiro, não podem ser explicadas; pelo menos eu não sei explicá-las, somente Deus o sabe. O que mais me impressionou foi o canto da Salve Regina, ao escurecer, antes de irem deitar-se. Aquilo foi algo sublime".

Com efeito, desde a época de São Bernardo, era costume nos Mosteiros cantar a Salve Regina logo após as Completas, em homenagem à Santíssima Virgem. Diante da unção daquele hino entoado por mais de 50 religiosos revestidos de brancos hábitos, Rafael sentiu-se convidado a imitá-los. Nesse dia, o projeto de dar-se à vocação monacal começou a germinar em sua mente.

Ele continuou a levar sua vida comum. Dados os seus dotes para o desenho, estudou dois anos na escola de arquitetura, em Madri. Entretanto, a graça operara em seu interior uma verdadeira transformação, como ele mesmo descreve:

"Ali na Trapa, a sós com Deus e a própria consciência, muda-se o modo de pensar, o modo de sentir e, o mais importante, o modo de agir nos atos do mundo".




A decisão de abraçar a vida religiosa

Em 1933, estando de novo em Ávila, Rafael surpreendeu seu tio com uma notícia: estava resolvido a abandonar o mundo e ingressar na Ordem Trapista, sem mesmo avisar seus pais, residentes ao norte do país, na cidade de Oviedo. Assim descreve seu tio a impressão que lhe causou a decisão do sobrinho: "Rafael era débil fisicamente, mas a fortaleza que faltava a seu corpo tinha em sua alma medida completa e transbordante. Sua vontade era de aço; eu tinha a firme convicção de que aquela determinação era de Deus; não era um capricho, nem uma impressão, nem um engano; era o fruto divino de uma correspondência à graça, que o Espírito Santo dignava-se sustentar com um de seus mais preciosos dons: o da fortaleza".

Para demovê-lo de sua resolução de não ir antes a Oviedo, seu tio recorreu ao Núncio Apostólico, que se encontrava em Ávila. Ante o desejo da autoridade religiosa, Rafael dobrou-se, por amor à obediência, reconhecendo naquela ordem o primeiro passo rumo à cruz, que desejava abraçar.

Partiu para Oviedo e lá, após comemorar o Natal numa aparente alegria, comunicou a seus pais a decisão que tomara. Estes, como bons cristãos, acolheram-na com verdadeira emoção, agradecendo a dádiva que o Senhor lhes concedia.


(Continua)



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